Do Poeta e da Poesia
Belas palavras jazem, sem vida,
Num pedaço de papel amassado.
O poeta as disparou na tristeza sentida,
Depois as chorou e deixou de lado.
Um bom poeta jaz, agonizante,
No canto de um quarto vazio.
Sentiu a dor da partida de sua amante,
Cuspiu uns versos e espera, da morte, o frio.
Uma bela jovem jaz, amargurada,
No quarto de um hotel qualquer.
Abandonou o poeta e foi abandonada.
Agora pensa nele, esteja onde estiver.
Belas palavras agora ecoam
Pelos cantos de um apartamento.
Ao poeta, gentilmente, se doam,
Tentando apartá-lo do sofrimento.
Um poeta declama os versos de amargura
Que de seu peito foram lançados.
E, depois de aliviado, jura
Não ser mais um dos apaixonados.
Uma bela jovem caminha, apressada,
Rumo aos braços do poeta que ama.
Dirá que se arrepende e, devotada,
Quer voltar a habitar sua cama.
Belas palavras jazem, caladas,
À espera de outras que virão.
O poeta, e suas lágrimas desenfreadas,
Que mais e mais escrevem, pouco a pouco, cessarão.
Um poeta ouve passos no corredor
E, não tarda, alguém toca a campainha.
Ele inspira, tentando suportar a dor
E para a porta se encaminha.
O olho-mágico da porta, assustado,
Não acredita no que agora vê.
Pisca e aperta os olhos, embasbacado,
"Não!" - pensa - "Não pode ser!"
Belas palavras choram de tristeza,
Despedaçadas e atiradas ao léu.
A amada voltou ao poeta que, com frieza,
Desfez em mil pedaços a folha de papel.
A poesia, sentindo-se usada,
Contra o poeta jura vingança.
Agora, para ser criada,
Exige total desesperança.
Um poeta jás, dividido,
Entre sua amante e a poesia.
Decide, não sem o coração partido,
Partir e deixar sua amante à revelia.
E é por isso, certamente,
Que o poeta sofre, sem cessar:
Por sua poesia, tristemente,
Teve de abrir mão de amar.
William G. Sampaio [15/12/2009]