[Movimento dos Barcos]
["Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis"]
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A montanha, o mar, o sol, o vento;
malas, gentes, luzes e os barcos —
a inteireza do mundo subtrai-se
agora à nossa alma sensível.
Neste instante, os nossos olhares,
antes ternos, mas agora impassivelmente diretos,
esvaziados dos sonhos partidos e de gastas esperanças,
não mais se juntam nos mesmos objetos.
Apenas saídos da nave que vogava ligeira e bela,
desembarcamos em meio à agitação desse cais.
Atônitos, com os sentidos ainda bastante aturdidos,
e as mãos carregadas de incômoda bagagem,
despedimo-nos com dois beijos de fria cordialidade —,
um nada, perto de tudo que vivemos nessa viagem!
Tentando firmezas que sabemos impossíveis,
demos as costas um para o outro e nos afastamos.
Caminhamos pela extensão do cais,
ainda sem saber como serão os dias
fastos em nos arrancar um do outro!
O peito aperta, sufoca, mas o que fazer,
se a nossa nave mágica foi destroçada?!
A brisa nos seca os olhos e confunde em nossos lábios,
o sal das lágrimas e o sal do mar — a dor e a distância!
e enquanto caminhamos, nossos olhares se consomem,
e se perdem no que há de real nesse instante:
o incessante, o "eterno movimento dos barcos"!
E no sem-fim desse cais, iremos sumindo, sumindo...
até nos perdermos entre as gentes e as coisas, outra vez!
[E assim, tentarei apagar de minha mente a sensação de que,
em algum lugar do tempo e do espaço,
havíamos sido preparados um para o outro]
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Para Ana Lucia, em algum dia de 1997.