Pós-Modernidade
“E o trompete soará e os mortos
Serão tornados incorruptíveis”.
Mas já não soam trompetes.
Tudo o que era grande e majestoso,
Nobre e corajoso,
Juntou-se às cinzas
Dos lugares-comuns.
A beleza da música, dos versos,
As cores, luzes e texturas,
Tudo se confundiu no culto do virtuosismo
Vazio,
Do palavreado demagógico
E vazio,
Do positivismo plástico,
Reificante e oco.
A crítica justa à falsa majestade,
Ao poder efêmero travestido em realidade absoluta,
Excedeu-se e obliterou
O reconhecimento do fragmento de eternidade
De que toda a humana matéria está infectada.
A fugaz e sagrada,
A mortiça luz do espaço dos sonhos
Deixou-se conspurcar pela fria lâmina analítica,
Violar pela desfaçatez despudorada
Da consciência insone do século XX.
Deixou-se apagar pela obsessão farmacológica
Da era pós-industrial.
Nem a jovialidade, temperada de tristeza, de Mozart,
Nem o furor beethoveniano,
Nem a doce melancolia de Brahms.
Os acordes finais da marcha fúnebre,
Que vimos compondo enquanto findamos,
Participam da natureza
Das obras que desconhecem
A própria estrutura,
Que não sabem aonde querem chegar,
Perdidas neste universo
Pós-hegeliano.