Pós-Modernidade

“E o trompete soará e os mortos

Serão tornados incorruptíveis”.

Mas já não soam trompetes.

Tudo o que era grande e majestoso,

Nobre e corajoso,

Juntou-se às cinzas

Dos lugares-comuns.

A beleza da música, dos versos,

As cores, luzes e texturas,

Tudo se confundiu no culto do virtuosismo

Vazio,

Do palavreado demagógico

E vazio,

Do positivismo plástico,

Reificante e oco.

A crítica justa à falsa majestade,

Ao poder efêmero travestido em realidade absoluta,

Excedeu-se e obliterou

O reconhecimento do fragmento de eternidade

De que toda a humana matéria está infectada.

A fugaz e sagrada,

A mortiça luz do espaço dos sonhos

Deixou-se conspurcar pela fria lâmina analítica,

Violar pela desfaçatez despudorada

Da consciência insone do século XX.

Deixou-se apagar pela obsessão farmacológica

Da era pós-industrial.

Nem a jovialidade, temperada de tristeza, de Mozart,

Nem o furor beethoveniano,

Nem a doce melancolia de Brahms.

Os acordes finais da marcha fúnebre,

Que vimos compondo enquanto findamos,

Participam da natureza

Das obras que desconhecem

A própria estrutura,

Que não sabem aonde querem chegar,

Perdidas neste universo

Pós-hegeliano.

Daniel Afonso
Enviado por Daniel Afonso em 20/03/2010
Código do texto: T2148476
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