JEREMIAS

Euna Britto de Oliveira

Site de Poesia: www.euna.com.br

— “Ô, Dona, me dá uma ajuda!

Peguei 23 reais emprestados

Com um homem que só fala em matar,

E agora ele quer receber 54 reais...”

— É assim mesmo, Jeremias.

O Banco também fez isto comigo.

— “Mas vai dar tudo certo,Dona!

DEUS É MAIOR!”

Jeremias me anima e conforta

E vai embora...

Diz que arranjou emprego no sul de Minas.

Conheço-o, faz tempo.

Mora na Colônia Santa Isabel, de Belo Horizonte.

Uma Colônia para pessoas

Acometidas de HANSENÍASE.

(Lembro o filme Ben-Hur, em que aparece o vale dos leprosos,

num tempo em que essa doença não tinha controle).

Jeremias é um rapaz bonito, de olhos puros,

E carrega uma cruz muito pesada!

Hanseniano...

Mas não demonstra fraqueza.

É um forte!

Um forte de espírito!

Casou-se e já tem uma filhinha

Que deve ser lindinha!...

Não a conheço.

Jeremias sempre vem

Nas suas andanças pelas ruas da cidade...

Este mundo é um mundo cão!

Não poupa nem Jeremias!...

Que me perdoem o que vou dizer,

Mas certos agiotas são idiotas,

Ao praticarem juros extorsivos e abusivos.

Estão contraindo débitos futuros...

Com o pecado da USURA!

Loucura!...

Os bancários, não!...

Eu mesma já fui bancária.

Foi o meu primeiro emprego.

Mas os banqueiros...

Que Deus tenha misericórdia dos banqueiros!...

Quantas filas de endividados

Trazendo a oferenda para os banqueiros!...

Sem saber o quanto custaram as oferendas,

Sem nem ver as faces quase sagradas

Dos portadores dessas oferendas,

Eles as recebem,

Em forma de juros altos!...

E se refestelam!...

Juros estipulados no dia de algum empréstimo.

Taxados, cobrados, exigidos!!!...

Sem saber o quanto custou essa oferenda,

Ou calando a voz da consciência com as mãos cheias de dinheiro,

Tornam-se infelizes para sempre...

Ou quase.

A Hanseníase do corpo é grave.

E a Hanseniase da alma?...

Nossa alma

Nossa palma!...

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Para refletir...

“Mulheres de Jerusalém,

Não choreis por mim.

Chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos.

Se ao lenho verde fazem isto,

O que não farão ao lenho seco?...”

(Palavras ditas há dois mil anos...

Palavras introdutórias da 8ª Estação da Via Sacra).

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 12/08/2006
Código do texto: T214809