O corvo
Vens voando bater de novo
nesta alma em pena cansada
que por um fio de saudade
move-se em teus olhos, ó corvo
não trazes de volta
a flor do meu jardim,
nem a aurora dos meus dias,
vens como a um sonho,
que se guarda ao despertar
- sem tempo, sem regra -
num grão de esperança, sei,
trazes a morte da saudade
por fim, matarás a saudade
que me explora a alma inquieta
guardiã desse desejar profundo
de amar a mais bela das poetas
que cantou versos pra mim um dia
e agora não canta mais
rara beleza dentre as belas
que meus olhos hão de suportar
tamanha beleza
que minh’alma há de suportar
tamanha elevação
Levanta-te! ó ave hedionda
com tuas asas sombrias
desta gélida alma em que
houveste de pousar infausta
Leve essa dor de ausência
mas que seja agora, por fim
agora, senão,
não quererei mais auroras
nem tardes, nem noites,
frias ou quentes, porque
a dor que me é pungente
não suporta mais horas
nem minutos
nem reencarnações
posta saudade me faz querer
a morte eterna,
sem seu amor,
a vida é eterna
se não me trazes
de volta o meu amor, vá
e surra o vento com tuas asas
que espantam as
almas dos becos
e leva contigo meu
recado a Hades,
quem te mandou,
de minha completa
e solene inconformidade
agouro que me trouxeste
deixarei, e partirei sem bagagem
sem saudade
levarei comigo
a derradeira esperança
de acabar com meus ais,
reencontrar minha amada
que cantou versos pra mim um dia
e agora não canta mais.