Noite

Ó, escuridão torpe,

que baixais sobre mim!

Terror de lugares vazios!

Medos infantis de fantasmas

que me voltam a assombrar

na flor despetalada dos anos!

Ruídos urbanos ocultos,

automóveis e motocicletas solitários,

não chegam a se individualizar,

recitando curtos e patéticos monólogos.

Trevas nas almas!

Luzes da cidade: impressentidas.

Luzes rurais podem ser

luas, estrelas, vagalumes,

olhares.

Almas em trevas!

Um morcego engoliu a lua;

ou será uma nuvem?

Horas de corações apertados,

sonhos desfeitos

pela chuva que lavou o crepúsculo

(eram de papel!).

Veredas invisíveis,

paisagens inverídicas,

dores inimagináveis.

Os grilos começam seu canto,

que, toda noite, é um incontido pranto

pelo dia que não vai voltar.

Os poetas retomam seu canto,

noite e dia, desfazendo o encanto

que, por gerações,

rege o seu penar.

Daniel Afonso
Enviado por Daniel Afonso em 15/03/2010
Código do texto: T2139563
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