Noite
Ó, escuridão torpe,
que baixais sobre mim!
Terror de lugares vazios!
Medos infantis de fantasmas
que me voltam a assombrar
na flor despetalada dos anos!
Ruídos urbanos ocultos,
automóveis e motocicletas solitários,
não chegam a se individualizar,
recitando curtos e patéticos monólogos.
Trevas nas almas!
Luzes da cidade: impressentidas.
Luzes rurais podem ser
luas, estrelas, vagalumes,
olhares.
Almas em trevas!
Um morcego engoliu a lua;
ou será uma nuvem?
Horas de corações apertados,
sonhos desfeitos
pela chuva que lavou o crepúsculo
(eram de papel!).
Veredas invisíveis,
paisagens inverídicas,
dores inimagináveis.
Os grilos começam seu canto,
que, toda noite, é um incontido pranto
pelo dia que não vai voltar.
Os poetas retomam seu canto,
noite e dia, desfazendo o encanto
que, por gerações,
rege o seu penar.