Indelével
É assim que me vens
À memória de todos os meus dias
Mergulhas em meus olhos
Navegando sob as ondas
Em que se espraiam meus desejos
Habitas o mundo íntimo
Das perguntas que nunca fiz
És a fluidez de todos os meus anseios
Onde nascem os delírios e desvarios
És meu tormento nomeado
A metáfora, a reticência, a loucura
São meus olhos feitos de ti
Como se sempre regressasses
De um mundo que não te reconhece
Quando te buscas no além de mim
E quando teus passos me percorrem
Trazes-me a inspiração, a palavra
E o silêncio de todos os meus segredos
Resigno-me a harmonia natural
Deste teu respirar em mim
É o rumor indelével da tua voz
Ternura de afagos azuis
Enquanto corre a vida
Esta que ainda não sei
Indagam os meus lábios
De onde vem esta saudade de ti
E esta sede da tua lembrança
Que nunca se mitiga em meu peito
E nem se esgota em meu pensar
Alcanças-me no mais longínquo de mim
O meu amor te abraça conivente
Como um confidente suspiro
Ouvido no silêncio da madrugada
Quando os corpos desnudos de hesitações
Deixam-se colher pelas mãos do desejo
Na quietude da noite, céu e abismo
Meus olhos deixam para trás
As cores de todos os sonhos
E buscam na cálida penumbra
O tempo absoluto, qualquer evidência
Ainda impressa no calor da retina
Onde tua imagem possa me tocar
Sobrepondo-se a todos os sonhos inúteis
Que te aprisionam em meu sono
© Fernanda Guimarães