Indelével

É assim que me vens

À memória de todos os meus dias

Mergulhas em meus olhos

Navegando sob as ondas

Em que se espraiam meus desejos

Habitas o mundo íntimo

Das perguntas que nunca fiz

És a fluidez de todos os meus anseios

Onde nascem os delírios e desvarios

És meu tormento nomeado

A metáfora, a reticência, a loucura

São meus olhos feitos de ti

Como se sempre regressasses

De um mundo que não te reconhece

Quando te buscas no além de mim

E quando teus passos me percorrem

Trazes-me a inspiração, a palavra

E o silêncio de todos os meus segredos

Resigno-me a harmonia natural

Deste teu respirar em mim

É o rumor indelével da tua voz

Ternura de afagos azuis

Enquanto corre a vida

Esta que ainda não sei

Indagam os meus lábios

De onde vem esta saudade de ti

E esta sede da tua lembrança

Que nunca se mitiga em meu peito

E nem se esgota em meu pensar

Alcanças-me no mais longínquo de mim

O meu amor te abraça conivente

Como um confidente suspiro

Ouvido no silêncio da madrugada

Quando os corpos desnudos de hesitações

Deixam-se colher pelas mãos do desejo

Na quietude da noite, céu e abismo

Meus olhos deixam para trás

As cores de todos os sonhos

E buscam na cálida penumbra

O tempo absoluto, qualquer evidência

Ainda impressa no calor da retina

Onde tua imagem possa me tocar

Sobrepondo-se a todos os sonhos inúteis

Que te aprisionam em meu sono

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 11/08/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T213899