Dias mineiros

Ah! Frescura de manhãs,

doce sonolência mesclada

à volúpia de espreguiçar,

suave aroma de café coando,

ruídos amemos tão familiares

(a buzina do leiteiro, o marche-marche

das crianças a caminho da escola).

O tique-taque do relógio

prende à cama um pouco mais,

numa sensação de não pertencer ao século.

Ah! Estranho oscilar da cadeira de balanço,

teu ritmo marca a passagem das décadas,

o acontecer de muitas estórias,

ainda sussurradas por vozes de avós

aos ouvidos ansiosos de netos.

Ó, aragens das tardes ensolaradas,

modorrentas, dos sertões de Guimarães Rosa.

Veleidades acordadas, contemplando

a sucessão dos morros, serras, cerrados,

cafezais que contêm a viagem de automóvel.

Córregos quietos de pescaria,

mansos recantos onde ecoa

a toada ronceira.

Dona do dia, em seu cercado,

a galinha d'angola a todos

saúda com seu canto empastado:

- Tô fraco... tô fraco.

Daniel Afonso
Enviado por Daniel Afonso em 14/03/2010
Código do texto: T2137592
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