Dias mineiros
Ah! Frescura de manhãs,
doce sonolência mesclada
à volúpia de espreguiçar,
suave aroma de café coando,
ruídos amemos tão familiares
(a buzina do leiteiro, o marche-marche
das crianças a caminho da escola).
O tique-taque do relógio
prende à cama um pouco mais,
numa sensação de não pertencer ao século.
Ah! Estranho oscilar da cadeira de balanço,
teu ritmo marca a passagem das décadas,
o acontecer de muitas estórias,
ainda sussurradas por vozes de avós
aos ouvidos ansiosos de netos.
Ó, aragens das tardes ensolaradas,
modorrentas, dos sertões de Guimarães Rosa.
Veleidades acordadas, contemplando
a sucessão dos morros, serras, cerrados,
cafezais que contêm a viagem de automóvel.
Córregos quietos de pescaria,
mansos recantos onde ecoa
a toada ronceira.
Dona do dia, em seu cercado,
a galinha d'angola a todos
saúda com seu canto empastado:
- Tô fraco... tô fraco.