[Inquietação]

Sou um inquieto na vida...

Eu sou rude... e sei-me:

Eu sou rudimentar!

Queria, mas queria tanto

dizer algo além de nada,

queria ter palavras como

imantação de serpente

para pássaros livres;

mas "a gente" nunca diz nada...

E se dissesse, serviria pra quê?

Verso trivial, escrito

à hiante boca da noite,

só para passar o susto

de ler os olhos de um pássaro ferido:

"No deserto das nossas existências,

há um jardim onde viceja a Relação,

este ser alado maravilhoso dotado

de uma asa minha, e a outra, tua."

Inquieta-me pensar que um pássaro

assim formoso não mais possa voar,

pois tem as asas desconjuminadas

por feridas de abandonos...

No caso, as aspas servem apenas

para realçar a banalidade...

Eu tenho o gosto de olhar

pela fresta do biombo do Banal.

Mas para voar comigo, é preciso

ser essencial, sem sobras;

ser simples, sem rodeios;

gostar de ver o formidável esforço mecânico de um formiga;

ter uma inquietação que fala com a minha!

[Penas do Desterro, boca da noite de 13 de março de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/03/2010
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T2136642
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