Poesia
Ó, mistério das horas soturnas,
silêncios de sombrias formas,
rescendendo a canteiros imaginários
cobertos de pressentidas margaridas!
Ó, brilhos recônditos,
reflexos fugidios de luz fria,
embatendo-se contra naturezas mortas!
Fantasmas de outrora,
navegando em mares antepassados,
veleiros de extintas madeiras,
de olvidadas perenes florestas!
Momento presente,
coletânea de fragmentos mnêmicos,
identidades dispersas
fragilmente tecidas em comunhão!
Ó, futuro indevassável,
ares regurgitados, elos partidos
de uma humanidade fenecida!
Em minha poesia,
quero aliar os elementos temporais,
meus tempos interiores,
o Tempo que não me pertence.
O Real e o Ideal,
o nítido e o vago.
Tomo emprestadas a chave
e a precisa entalhadeira,
que minha insegurança fará bem menos exata.
Tropeço nas palavras, outras despencam sobre mim.
Com a bacia das almas,
desejo colher as humanas lágrimas
e, atingido pela flecha da história,
gravar, em sangue, dores,
alegrias, libido, esperanças,
imprecações, excrementos.
Tudo quanto haja de humano!
E, finalmente despertando para os sonhos,
riscar, no lado interno da tampa da urna
[funerária,
a decepção da vida,
busca incompreendida e inútil de mim mesmo.
E esse instante final, iniciático,
vértice de paralelos universos,
promoverá meu encontro com dEUs.