ESPELHO
Largado e intacto olhava o mundo
O movimento
Refletia as estrelas e a lua
Moças e rapazes passando
Automóveis
Fitava também o nada
Aquele espelho em madeira de lei emoldurado
Perfeito, rebordado e esmaltado
Nem uma risca no seu olhar
Quantas lindas mulheres
Quantas lágrimas
E sorrisos
Sorrisos e vestidos de casamento e de desdém
Quantos homens olharam os bigodes
Fizeram pose de sérios doutores
Mas eram homens traidores
Quantas senhoras os cabelos embranqueceram naquela luz
Nenês de batizados
Padres sisudos
Freiras desconfiadas
Crianças peraltas
Quantos por aquele olhar transitaram
E quem colocou ali
Abandonado
O belo espelho
O espelho do presente
Guardando segredos
Do passado
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ESTE POEMA TEM SUA RAZÃO DE SER NUM ESPELHO DE PAREDE ENCONTRADO POR UMA DE MINHAS FILHAS EM UMA RUA DE MADRID. VENDO A BELEZA DO ESPELHO E PENSANDO QUE EU O APRECIARIA MUITO, ESSA MINHA FILHA LEVOU-O PARA CASA E O COLOCOU NA PAREDE DA SALA. AINDA PEDIREI A ELA QUE ENVIE A FOTO DO OBJETO QUE VI PELA CAM E OBSERVEI SUA BELEZA. CUMPRE NOTAR QUE OBJETOS INTACTOS E ATÉ DE RELATIVO VALOR SÃO DEPOSITADOS EM RESERVATÓRIOS APROPRIADOS PARA A COLETA DE LIXO EM RUAS EUROPEIAS.