TODOS OS MEUS QUADROS

Não escolho palavras bonitas
Para enfeitar minha poesia
Escrevo cara a cara
Noite quente
Noite fria
Se tenho que escrever dejetos
Escrevo dejetos
Não vasculho dicionário
Para escolher qualquer palavra objeto
Não invento tristezas
Não invento belezas
Como o que tiver na mesa
Se tem sardinha
Como sardinha
E não arroto salmão
Se não o tenho na mão
Não quero ser o certinho
Aquele cheio de amor pra dar
Quero soltar o verbo
Ser apenas eu
Não escrever o querem ler
Apenas para me vender
E não ser eu
Ou seu
Quero sorrir se puder
E chorar se tiver
Não quero me encher de cerveja
Ou vinho barato no canto do bar
Mas se tiver que sofrer
Não estou nem ai
Vou sofrer
Ou sorrir
E está acabado
Pois já joguei no lixo
Que a prefeitura não recolhe
Todos os meus quadros