Balada para uma meretriz
Anda, anda, se ajeita,
o trem já vai passar.
Passa um, passam dois,
passam três, passam quatro,
e ela sempre na janela,
a esperar.
Por quem espera?
Para quem a flor no cabelo?
Para quem o carmim nos lábios?
Para quem o olhar de desvelo?
Para João?
Para Raimundo?
Para Tiago ou Mateus?
Para todos que teve um dia
ou para todos que um dia terá?
Ah, rameira dos tempos de ontem!
Ah, perdida dos tempos de agora!
Pega tua flor, joga fora,
limpa tua boca,
senta e chora,
que hoje ninguém dá importância a janelas.
Ou tu te escondes em casa e te entregas à solidão,
ou tu te entregas à rua,
que te conhece no sim e no não.