FLAGELO

O espelho se partiu no quarto escuro
No momento que o raio
Cortou o céu do dia infeliz que ainda não nasceu

A tesoura que cortou meus olhos
Foi escondida entre os panos na gaveta
Para que as paredes não ficassem mais rachadas

Não tenho como mostrar o peito
Porque os botões da camisa são de força
E não permitem que eu me mostre desnudo

A espada está enfiada em minha garganta
Para que minha voz não ecoe
Para fora dos portões do quintal da minha casa

Só me resta ficar imóvel na lápide em vida
Ou sair sem licença para tomar sol no dia sem sol
E soltar meu grito até que anoiteça para sempre