ONZE NOVE UM
O impacto soprou no mundo
as cinzas de uma cidade ajoelhada
ouve-se ainda o berro humilhado de Nova Iorque
não há no mundo
algum ouvido que possa ser irmão
a ponto de sentir na carne
o fumo se alimentando do orgulho.
Estão sendo inventados os poetas
que criarão formas de se sentir em poesia
a dor do 11 de setembro
estão sendo inventados os cientistas
que criarão em laboratório
as lágrimas de quem o destino escolheu
para testemunhar o sacrifício.
Nova Iorque não sabia chorar
havia dor mas Nova Iorque não sabia senti-la
em Nova Iorque a dor era uma teoria distante
a dor enxugava o suor do rosto dos seus arquitetos
mas os arquitetos depois iam
para as suas casa em Nova Iorque
e já não precisavam dela.
Nova Iorque não sabia criar
Nova Iorque é grande: não há espaço para se cair
a dor individual silenciosa escorreu pelo mapa
havia países cidades vilas e pessoas
Nova Iorque aprendeu a dividir a sua dor.
Em 11 de setembro Nova Iorque não era um império
era uma mãe que chora pelos filhos
não há tempo para buscar a bandeira Nova Iorque
é urgente sentir-se abraçada
por todas as mãos do mundo
o abraço repõe ao menos dois por cento
de qualquer morto
em Nova Iorque era proibido morrer.
Em 11 de setembro em Nova Iorque
não houve tragédia
terror não houve
apenas a história abateu sua pesada mão
para livrar-se do tédio e dar aos livros famintos
motivos de uma nova época.