AOS 14 ANOS DO MEU FILHO DAVID

Filho, lembro de quando você foi feito,

quando demos uma sombra à sua alma,

quando demos um sopro de luz à sua vida.

Você era tão pequeno, mal cabia na nossa mão,

mas já preenchia todos rincões dos nossos sonhos,

até aqueles que a gente ainda nem conhecia.

Seu sorriso nos deixava frouxos, desmembrados de razão,

seu choro nos desabava numa avalanche sem trégua,

sua dor nos cortava em tantos pedacinhos que perdíamos a conta.

Lembro do teu cheiro de bebê nos atracando com força,

lembro da tua pele protegendo o nosso corpo do frio e do medo.

Os dias foram correndo na sua desembestada folia,

nem percebemos que a noite dormia pra fazer o dia acordar cada vez mais cedo.

E hoje você tem a grandeza de um lutador do alto da sua vitória,

fazendo da nossa sina um feliz escravo dos seus desejos de nômade,

fazendo dos nossos caminhos o esboço do seu atalho predileto.

Olho para você e vejo muito de mim que um dia ainda vou desnudar,

sinto em você todo untado nos poros da sua mãe com plenitude divina.

Um dia, eu sei, você não vai mais lembrar de todos momentos que afagamos juntos nessa vida, nem de todos instantes que, juntos, refogamos o nosso sangue numa veia só.

Um dia, tomara, você vai gerar os seus próprios olhos, vai inspirar os seus próprios musgos, vai fantasiar os seus próprios risos, vai esculpir os seus próprios acenos, vai destravar os seus próprios medos, vai desfraldar os seus próprios encantos, vai entender a sua própria razão de fé, vai cerzir o seu próprio mastro, vai fazer brotar o seu o próprio suor, vai aportar o seu próprio passo.

Nesse dia, talvez, o seu pai não esteja mais tão vivo quanto nos seus 14 anos.

Mas, tenha plena certeza, o meu cheiro ainda estará aquecido nas fronhas do seu pensamento.

E o meu amor ainda poderá ser untado em qualquer teco de você, sempre que as lágrimas vierem regar o seu coração.

Amo você, filhão.

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