De pessoa pra pessoa

Será fingimento? Será mesmo, o mesmo descontentamento

Fingido, fugido, desencontrado?

Ou entregar-se por consentimento?

Ser poeta é ser a si mesmo, pessoa em dobro

É entregar-se sim, totalmente, alma descoberta

É fugir da dureza aparente, sem fingir, porta aberta

É expor a própria dor, sozinho, gritar seu sopro.

E os que lêem o que escreve, na dor lida enxergam-se também

E em calhas de roda, todos já foram, ou já vêem

E o poeta sem fingir, foge e se encontra, e cria

Se mostra ao espelho, sente mais, adultera, irradia.

Sente por si e pelo outro, a pena sua, canta a voz de todos representada.

Mimetiza a dor (e não só ela ), alma duplicada.

A tinta e o canto, em si e para o outro, giram a entreter a razão

E no papel, começa a perder-se... este comboio de corda, o coração.