CONFISSÃO

Primeiro era apenas um martelo.

Inofensivo como a insígnia do sargento.

Depois trouxeram um prego pontudo e fino.

Um fio longo e vermelho foi colocado num canto alto da grade de ferro.

Alí Permaneceu também inofensivo,

mas por pouco tempo.

Em seguida,

o desespero e o terror precederam a desordem,

a indiferença e o medo.

Um rugido de besta-fera se propagou no ambiente.

Atravessou portas e janelas e a grossa parede de cimento.

Outro berro assustador quebrou novamente o silêncio.

- Confessa! confessa maldito!

Um forte tapa na cara.

Choque elétrico no pênis.

Chutes e mais chutes violentos.

A voz vociferou novamente.

- Confessa! Confessa! bandido!

Outro rugido estridente.

Mais tapa na cara.

Mais fio vermelho no pênis.

Um murro violento no estômago.

Outro, ainda mais impiedoso, nos destes.

Na mão direita,

a indiferença segurava o martelo sem sentimento.

Na esquerda,

a crueldade agarrava firme o prego inocente.

Uma martela certeira perfurou o tímpano esquerdo.

Um grito de dor... seguido de mais e mais gritos!

Outra martelada impiedosa perfurou o tímpano direito.

Clemência e desespero não comoveram o rigoroso sargento.

- Pelo amor Deus!

Por Nosso Senhor Jesus Cristo!

Não me mata! Não me mata!

Sou casado e tenho filhos pequenos!

Em seguida mais desespero,

precedido de outros pedidos.

Em resposta, o cinismo.

Uma gargalhada cruel,

seguida de mais e mais risos.

Um corpo ofegante na cela.

Uma mão ferida ainda se debatendo.

A outra, segurando em vão o último sopro de vida,

tentava estancar o jorro de sangue que escorria dos ouvidos.

Sentado num canto,

contemplando o último suspiro,

a satisfação do insensível sargento.

Sorriso nos lábios.

Cigarro na boca.

Fumaça subindo!