DESCONSTRUÇÃO DE UM SOPRO

Afrontas indecisas abafam o grito.

O homem e o nome desunidos.

As redes têm as malhas desgastadas,

amores entendidos como ingênuos nos conflitos.

Embora ainda não fale sobre o amanhã,

as nuvens insistem em encobrir um céu gentil,

que fora concebido em mais de mil orações,

com a fé de agredir um novo Iscariotes que anula o beijo.

O foco no retrovisor diminui o alcance,

não me permite ver.

Espelho quebrado com pedaços embaçados,

não me permite ver.

O pescoço é curto e a montanha é alta,

não me permite ver.

Fôrma de caráter, dignidade,

tudo à venda, três por um real.

Troco por chiclete ou vale transporte,

cabe em qualquer um, de qualquer lugar.

Palavras simples sufocadas entre os dentes,

não me permitem ser.

Olhares vis aos forros de pano,

não me permitem ser.

Almas combalidas em cascas de metal,

não me permitem ser.

Troco minha vaidade por roupa usada.

Significante é mãos lavadas.

Raios rasgam subsolo,

em rabiscos infantis.

Luís César Padilha
Enviado por Luís César Padilha em 25/02/2010
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T2107955
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