Desencanto
Não tenho culpa por não estar nos seus sonhos
Sequer pude compartilhá-los com sua alma
Jamais dialoguei com seu inconsciente enquanto dormia
O sonho é seu, mas o pesadelo é meu
Nada fiz que não fosse para deixar as coisas leves e singelas
A todos os sinais respeitei
Não andei de costas e tampouco ao mundo avisei
Suportei e não apavorei
Quando se vai e sempre fico no lugar de sempre a esperar
Penso dias e noites da madrugada a chegar
Um capuz impede os meus olhos enxergar
E estou em plena tortura diante de fatos que nem posso controlar
Distante e angustiado me vejo desencantado
Não sou nenhum sujeito desavisado
Apanhar da vida parece uma coisa que tem me amaciado
Mas sou resignado, um pouco revoltado, mas jamais um depravado
Na minha idade me sobra integridade
Por isso não dou ouvidos à leviandade
Mesmo que ela tenha de uma boca voado
Não suportaria minha mãe ter magoado
Não obstante a porcaria de minha humanidade
Sei que não ando perto da humildade
Mas tenho um Deus que se chama simplicidade
E espero que minha poesia não cause mal-estar a quem antes não tinha crueldade.