Asserto

Eis que já passaram três mil noites;

Três mil fantasmagóricos açoites,

Pelas bocas crisólitas

Das luas insólitas,

Em noitadas mundanas e celestes.

Eis que já passaram três mil insónias,

Mil e algumas revoadas histórias

P'los meus olhos roxos,

- Bonitos, mas chochos! -

Nas ruelas das pálpebras doridas.

Quis recortar-me nas folhas das eras,

E descrever nos luares das feras,

Em pergaminhos,

Os teus caminhos

Ornados de nenúfares cinerícios!...

Mas foi num leito de erva parda e fresca,

Que ao ver-te passar pela estreita fresta,

Deitei-me em rumores

Convulsos de dores,

E amordacei os uivos das bestas.

E assim fico, calada, neste embalo

Do canto dos silêncios, no resvalo

Das horas precárias,

Moles, arbitrárias...

Pois quanto mais me calo... mais te acerto!

Cristina Pires