METAMORFOSE

Que me importa, a mim, que eu morra

e algum verme me corroa

se não mais estou presente?

Ali dorme a massa informe

que cobriu meu corpo em vida.

O eu real está ausente,

voa longe, em liberdade,

consciente além das grades

do cárcere que, então, o prendiam.

Na dura metamorfose

o seu brilho luminoso

expandiu-se generoso,

e subiu alto no espaço:

pintou cores, riscou traços

e num rasgo de loucura,

sublimando a própria espécie,

misturou-se à luz da lua

e fez o dia que amanhece.