Motivação
Sinto-me filosoficamente morto
Como dentro de uma espécie de vácuo
Existencial do qual
Não faço parte.
De nada faço parte.
Sou uma peça solta
Diante de vários quebra-cabeças
Quebra-cabeças coloridos.
E eu sou uma peça
Em preto e branco
Que só aparente se encaixar.
Talvez a essência fundamental
De meu ser isolado e alheio
Seja esta.
A essência de uma peça
Solitária e inacabada
Disfarçando-se em suas tintas
Para adentrar as cores
De outros quebra-cabeças.
Pelomenos aqui
Nesta folha de caderno
Eu não preciso fazer
Parte de nada.
Aqui eu não preciso ser nada.
Só preciso dizer algo.
Qualquer algo que queira dizer
Para meus raros leitores.
E, obviamente,
Algo que eu queira dizer
Para mim, eu, ser-caneta
De tinta negra.
(Talvez eu seja apenas
Um excluído, um isolado qualquer.
Um coringa sem baralho.
Um cigarro sem maço.)
Mas aqui eu não preciso ser!
Eu preciso dizer, expressar,
Escrever algo que eu considere relevante
Ou pelomenos, no mínimo interessante.
(Talvez eu não seja.
Simplesmente não seja!
Talvez eu nem exista!
Como poderia existir uma peça
Solta nessa realidade?)
Eu digo que a vida é bela!
Mas será que eu acredito nisso?
Vale a pena viver?
Não?
(Uma criatura sem raça...
Uma palavra sem verso...
Uma pena sem asa...
Uma folha sem árvore...)
Existem motivos para viver?
Não?
Existem motivos para morrer?
Nãos?
Que dilema!
(O que sou eu?
O que eu sou?
Eu sou?
Eu?)
Existe esta folha de caderno.
Por enquanto é o suficiente.
Existe algo a dizer.
É muito mais que o suficiente.