Motivação

Sinto-me filosoficamente morto

Como dentro de uma espécie de vácuo

Existencial do qual

Não faço parte.

De nada faço parte.

Sou uma peça solta

Diante de vários quebra-cabeças

Quebra-cabeças coloridos.

E eu sou uma peça

Em preto e branco

Que só aparente se encaixar.

Talvez a essência fundamental

De meu ser isolado e alheio

Seja esta.

A essência de uma peça

Solitária e inacabada

Disfarçando-se em suas tintas

Para adentrar as cores

De outros quebra-cabeças.

Pelomenos aqui

Nesta folha de caderno

Eu não preciso fazer

Parte de nada.

Aqui eu não preciso ser nada.

Só preciso dizer algo.

Qualquer algo que queira dizer

Para meus raros leitores.

E, obviamente,

Algo que eu queira dizer

Para mim, eu, ser-caneta

De tinta negra.

(Talvez eu seja apenas

Um excluído, um isolado qualquer.

Um coringa sem baralho.

Um cigarro sem maço.)

Mas aqui eu não preciso ser!

Eu preciso dizer, expressar,

Escrever algo que eu considere relevante

Ou pelomenos, no mínimo interessante.

(Talvez eu não seja.

Simplesmente não seja!

Talvez eu nem exista!

Como poderia existir uma peça

Solta nessa realidade?)

Eu digo que a vida é bela!

Mas será que eu acredito nisso?

Vale a pena viver?

Não?

(Uma criatura sem raça...

Uma palavra sem verso...

Uma pena sem asa...

Uma folha sem árvore...)

Existem motivos para viver?

Não?

Existem motivos para morrer?

Nãos?

Que dilema!

(O que sou eu?

O que eu sou?

Eu sou?

Eu?)

Existe esta folha de caderno.

Por enquanto é o suficiente.

Existe algo a dizer.

É muito mais que o suficiente.

Ironic
Enviado por Ironic em 19/02/2010
Reeditado em 19/02/2010
Código do texto: T2096222
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