POR TRÁS DAQUELA PORTA
Peguei de uma só vez toda voz poética
que dentro de mim ecoava
frenética...
Não as levei em cestos, tão pouco caixas
mas abraçadas em meu peito,
faixas.
Dei de debrucá-las em papéis
caídas, exaustas de mim
pincéis.
Mudas, tímidas ao calor do sol
onde antes cantarolavam,
rouxinol.
Agora as empurro, junto tudo
Cadê que não se mexem?
Mudo.
Amasso mais uma virgem folha
branca voz embargada,
bolha.
Escrava que sou desse louco ato:
traduzir o som em poema
nato.
Silêncio suspira só, na sala de espera
uma luz espreita a fresta
janela.
Abrem-se tons de loucas palavras
Espalho canetas, perco o olhar;
travas.
Poetizo e poemizo o nó das mãos
no pó que cobre escrivaninha
grãos.
Semeio a primeira bonita voz vinda de fora
Arrisco ouvir, sussurro. Escrevo aqui,
agora.
Diz assim: Invente horas verdes aveludadas,
aviste um vão feliz...tome o volante,
estradas.
Mas não vá prá longe dos olhos da alma,
Vê brotar seu choro; encabule o medo,
Calma!
Que todo caminho de ida, brinca por voltar.
Arrisque tudo...e tudo, acredite...tudo é
amar.