XADREZ

Na poeira do chão arenoso

surge o tabuleiro riscado

na ponta do giz quadrado,

é o xadrez da vida,

vencer ou desistir da partida?

Jogue o jogo

entre fumaça e fogo

aspire, respire,

feito efeito da sativa

chama quente, ilusão que cativa!

No vento voam mensagens

estratégia provocativa,

distorce, retorce imagens;

Silêncio na platéia!

Pensamento no ar,

E na contramão diagonal

vem o servil Bispo da ironia,

desajeitado na louca agonia,

agonia cafajeste,

quer porque quer

o amor da mulher,

Cinderela do agreste;

De repente!

Corcoveia o grego Cavalo de Tróia,

No picadeiro, na arena só tramóia!

A vida é um xadrez

a verdade escancara de vez;

Lá na Torre do planalto o vulto ressurge,

volta, ataca, contrataca,

boneco de cordel

seduzido pelos beijos de mel;

E a Rainha muito louca, irada,

contra o tempo se insurge,

enerva-se, ruge,

cuspindo versos no livro do nada;

Xadrez obscuro,

lance movimentado no escuro,

defesa débil, vulnerável,

olho que não olha

chora lágrima que não molha;

Fim de jogo então,

cheque não mate ...

O brilho ofuscou,

a luz não reluziu,

a mão não rebuscou,

não conduziu,

assim vaticinou o escrito do poeta orate:

Fim de rinha

pranto sem choro, desconsolo sem colo,

o Rei sem Rainha,

as vozes do além em festa

cantam em coro a canção,

e o Peão faz o solo, sempre solo ...

Fim de reinado, fim de relação.

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“Feliz do mortal que sai impune

frente alguém que se julga imune.”

05/09/07

ANDRADE JORGE

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