RAZÃO

Entre a sombra e a luz,

estou escuro

como em dias de eclipse.

O suor sangra pelas rachaduras,

a cicatriz madura

disfarça-se na pele clara.

Entre o inferno e o céu,

estou purgatório

como em tardes sem sol.

As mãos remendadas pelas mãos

de dedos esgarçados

tocam a união às cegas.

Entre o mal e o bem,

estou imperfeito

como noites sem abajur.

Em movimentos de interruptor,

os braços quase inúteis

acendem-se sem cliques

... em silêncio!

Entre a sombra e a luz,

entre o céu e o inferno,

entre o bem e o mal

surpreendo-me consciente

sob a luz dos refletores

de outros olhos humanos

... lúcidos de silêncio!