CARTAZES FORA DE MODA
Ao lado da mulher finita
ele morrerá humano.
Não sobreviverá nem
para dizer que ficou para semente;
mas precisará dela
quando, ao lado, o frio soprar
para reconhecer seu cadáver indigente.
Mazinho,
um irrecuperável apaixonado,
consciente de que o amor em vida iria faltar,
fez um testamento aos órfãos pressentidos
e tentou matar em si as razões de viver
de toda e qualquer maneira.
Resolveu, da noite pro dia,
voltar sempre tarde pra casa,
aprendeu, sem que nem pra que,
a beber muito e ter cara de bar.
Passou a dormir de costas
enquanto o corpo da amada,
sem estremecimentos,
agonizava ignorado em solidão.
Economizou beijos de bom-dia,
enquanto os lábios da amada, frios,
arroxeados e tumulares
enrijeciam a cada minuto de silêncio.
Ao lado do homem quieto
ela descansará imóvel.
Não acordará nem
para falar se ficou morta ou viúva;
mas dele precisará
quando, ao lado, o hálito soprar
o silêncio da voz muda por envenenamento.
Clótilde,
a amante da eternidade,
escreveu no diário os últimos momentos
e ainda viu o raiar do dia de um sol frio
a encurvar-lhe as dobras dos dedos
na lucidez última da grafia.
Renegou, de uma hora pra outra,
todos poemas de amor escritos,
queimou, por dentro e por fora,
todas as receitas copiadas
Passou a esperar aflita
o aguardo de uma má notícia
sem o entristecimento
apático do espírito suicida.
Economizou abraços de boa-noite,
enquanto o calor do homem dorme
na calma e nos braços
ninados por todo amor ausente.
Viva ou morta,
procura-se Clotilde:
companheira de Mazinho!
Morto ou vivo,
procura-se Mazinho:
companheiro de Clotilde!