O ESPELHO DE CLARISSE

Quando seu gesto

em outro rosto

me sorrir com o mesmo

jeito de você,

vou olhar-me no espelho

e dizer-lhe: —“Filha, volte nos fazer!”

sei que sua mãe é pouca,

sua mãe é muita

ela é só nossa:

minha e de você.

Ela tem sua forma

tem o mesmo jeito

que dorme em você.

Sem mais escuridão

ela nos fará brilhar

para a claridade.

O cofre do choro,

guardado há nove meses,

mostrou-nos o valor do porta-lágrimas.

Quando toda alegria

até noutro beijo

me sorrir nos mesmos

lábios de você,

vou dizer ao meu espelho,

tão alegre: —“Filha, volte nos sorrir!”

sei que sua mãe é meia

sua mãe é inteira,

ela é toda nossa:

minha e de você.

Ela se formou mulher

com o mesmo jeito

de menina ser.

Sem noites perdidas

ela se fez em despertar

para não mais sonharmos.

O cofre do choro,

guardado há nove meses,

segredou-nos o berrar do porta-sorriso.

Tão pequenina e calada,

de boca banguela, careca,

e com pelinhos no antebraço,

ela é nossa Clarisse, filha única,

lembrada, delicada em traços-mãe.