URTIGAS
Nunca falei de flores em meus poemas,
mas cocei-me com as urtigas,
mijei em cima das pernas
e das palavras com ardor de mato.
Nunca contei às flores, em meus poemas,
do trivial banal de todas elas
sempre com jeito de mesmo cheiro
acostumadas a janelas desvirginadas.
Como poderia modificar o humano hábito de suar
e mostrar a todas as flores o cheiro da pura poesia?...
Elas estão fechadas,
irredutíveis, dentro de mim
caladas, desumanas e visíveis.
Elas estão incomodadas
pelo hálito da palavra agreste:
assim como as urtigas do mato.