Palavras que não foram ditas
Tento em vão
numa carta derradeira
um perdão de ocasião
que não sei se quero escrever
palavras que não foram ditas
fatigam-me por dentro
e sobrevivem ao tempo
à mesa caduco extenuado
à espera de um anjo,
um espírito soprado,
que me dê o adjetivo adequado
daquele momento passado,
para um perdão de ocasião,
que não sei se quero escrever
Finjo que desisto
mas insisto
analogias inócuas,
parágrafos impuros
e palavras amargas
excretam-se de mim
tenho meu destino na mão
sem valia, sem direção
se o coração não consegue
escrever tal perdão
e o lixo
fixo no canto
transborda de folhas iniciadas
antecedência de um vazio
que chega
a sangue-frio
e eu,
tão cheio de lixo
como o lixo
fixo no canto
transbordo de folhas iniciadas
Estou perdendo você
e a poesia