Confissões
esparramado canonicamente diante do copo
as confissões tornam-se banais;
segredos inconfessáveis emergem
e placidamente assentam consolo.
Os amantes confessam casos baratos,
paixões efêmeras, amores eternos.
O poeta revela o amor platônico,
o desejo contido e a frustração da alma.
O desconforto com o outro,
a dúvida da outra, a outra, a mesma...
O riso, que explodia no teto,
abre espaço à melancolia
debruçando lamentações sobre a mesa;
são confessados até os pecados em gestação;
a maldade encontra um bom motivo,
mesmo que por alguns minutos,
no solo desabafo de um criminoso;
não há pecado sem confissão,
assim como não há penitência ao pecador;
sua teimosia o absolve,
até que o copo seque e enxugue a garoa
fria e persistente
que confessa molhar a solidão.