Cipreste...

Vês? eles vem longe, mas com seus machados estão chegando...

Olha aos meus pés, se a agradável sombra para ti não é o bastante

E nem ver lá no alto as nuvens escondidas e os pássaros cantando.

Por ti outrora, como eu, tantas caíram, viraram cerca, casa, ponte...

Deram os inúmeros frutos que por toda esta terra foste semeando.

O machado me fere, manejado por esses seres tão intrigantes.

Para mim é tarde, sinto que ultrapassam a casca que me reveste.

Fui a última que caiu, e essa densa mata jamais será como antes,

E eu que serei reles madeira, nunca mais um frondoso Cipreste,

A floresta, agora, é um mar imenso de pastagens verdejantes.

Ela que servia para sombra, purificava o ar e abrandava o vento.

Hoje foi derramada minha seiva, qual sangue encharcando o chão.

Caí porque fui útil para tudo, mas não consegui servir de alimento,

Quiça eu vire lenha, ou para os que me derrubam serei o caixão?

A verdade é que um ato tão banal amanhã poderá ser um tormento.

Tu assististes a tudo, impassível e brando, jamais levantou tua voz.

Calou por não querer acreditar que fariam a mata virar pastagem,

Foi assim desde o início, isso foi o mesmo que fizeram os teus avôs.

Já não há mais a floresta infinita, pois é assim que os homens agem,

Dá pena ver que eles mesmos estão buscando o final de todos nós.

Brasília-DF, 13 de fevereiro de 2010.