FELICIDADE
Por detrás desse manto natural
Esconde-se a brancura derradeira.
A tarde silencia seu plural
E desperta o cicio que se abeira
Nas entranhas da mata tropical
Da cidadinha pobre do Ribeira.
É término de sol com ventania
Nas bandas de Eldorado e cercania.
O caboclo traz no ombro a velha enxada;
Nos pés a direção firme e segura
Do esposo honesto e fiel à sua morada;
No tórax a risada franca e pura
Do caipira feliz, de alma encantada;
No sonho nada traz desta cultura!
Somente uma carroça pro roçado
Carregar e trocar lá no mercado.
O Peso da jornada de doze horas
Não retira do rosto fatigado
Por capinar a terra desde a aurora
O cordial cumprimento pro povoado
Em que qualquer esposa que lá mora
Espera com os filhos o pai amado
Para juntos entrarem na casinha
Que a família em amor e paz se aninha.
Vêm... O momento lúdico do afago,
Do beijo, a novidade saborosa
Trocados, até o pai dar os seus tragos
Deitado à rede enquanto, a mãe zelosa
Põe na mesa: o jantar; feito com magos
Dotes de cozinheira caprichosa
Que faz cada um, com poucos mantimentos,
Suprir necessidades de alimentos.
Jantam... Na circular e simples mesa
Montada pelas hábeis mãos do irmão
Mais velho que trabalha com destreza,
Capricho e precisão, sem profissão.
Pós, ceia fraternal, a sobremesa
Caseira: bananada com limão,
Com a fruta colhida no quintal
Ali no diminuto bananal.
E ao final desse dia familiar,
(Em que com harmonia, simples gente,
Sabe como viver, compartilhar
Todo seu diário suor: fraternalmente;)
De mãos dadas, olhos ao céu, a Orar
Agradecem a Deus, ardentemente,
Toda graça alcançada na jornada
E dormem até o raiar de outra alvorada.
(Alexandre Tambelli, 12 de maio de 2004 - 14:50h)