Invoco a hora
Invoco a hora
Sandra Ravanini
Bem-aventurado é o dia lá fora,
clareando as águas límpidas de deus
na chuva onde naufragam tantos eus,
ultimando à gota a seca hora.
Hora, ora, ora; nasci desses murros
e nada ilumina o desamparo,
apenas o clarão do disparo
cantando no meu ouvido em sussurros.
Invoco a queda da estátua amante,
que as águas levem o espelho escuro
onde a vergonha do deus do muro
derrube o concreto do meu eu errante.
Bem-aventurada é essa água caída
onde deus naufraga dentro de mim,
invocando a queda, invocando o estopim,
clareando o eu da estátua em despedida.
Ora, hora, ora, ilumina o instante
do ultimato; nasci da secura,
olhando o clarão que procura
o nada que cai da estátua errante.
05/02/2010