Barco Errante
Rio de águas puladeiras,
Pedras pontiagudas, curvas sorrateiras,
Leva nas veias de inquietantes corredeiras
O meu frágil barco a navegar.
Na velocidade das quedas,
O meu barco se debruça,
Faz água, tomba nas pedras,
Louca montanha-russa!
Vai-e-vem descompassado
Desse rumo atrapalhado,
Tão depressa o trambolhar nas águas!
Tão sem tempo para ouvir,
Os chamados dos bem-te-vis,
O piado aflautado das siriemas ariscas!
Apenas momentos, relances,
Do cheiro do capim marmelada,
Dos currais entardecendo,
Do assa-peixe cheiroso
Perfumando a madrugada
Pouso bêbado de pássaros equilibristas,
Trançando as perninhas finas
Como se fossem passistas
O balanço preguiçoso da palmeira dançarina,
Num vai-e-vem dolente
Que eu imitava menina.
Zune o barco nos remoinhos,
Balança nas curvas das águas,
Tocadas pelos braços
dos velhos jambeiros cansados.
Zune o barco na esperança,
De uma corda atirada,
Estancando as corredeiras...
Os trancos e os barrancos,
Para finalmente aquietar
O meu barco tão cansado
Desse louco navegar,
E que laçador e laçado,
Possam juntos sossegar,
Antes que, estas águas,
De escuro tom ciano
Levem o meu barco errante,
Até o imenso oceano.
E se isso acontecer,
eu não serei, nem mais barco,
nem mais ânsia
Serei água: só mais água –
fragmentada e chorosa,
Que vira chuva e desaba,
Nos campos da minha infância.
Rio de águas puladeiras,
Pedras pontiagudas, curvas sorrateiras,
Leva nas veias de inquietantes corredeiras
O meu frágil barco a navegar.
Na velocidade das quedas,
O meu barco se debruça,
Faz água, tomba nas pedras,
Louca montanha-russa!
Vai-e-vem descompassado
Desse rumo atrapalhado,
Tão depressa o trambolhar nas águas!
Tão sem tempo para ouvir,
Os chamados dos bem-te-vis,
O piado aflautado das siriemas ariscas!
Apenas momentos, relances,
Do cheiro do capim marmelada,
Dos currais entardecendo,
Do assa-peixe cheiroso
Perfumando a madrugada
Pouso bêbado de pássaros equilibristas,
Trançando as perninhas finas
Como se fossem passistas
O balanço preguiçoso da palmeira dançarina,
Num vai-e-vem dolente
Que eu imitava menina.
Zune o barco nos remoinhos,
Balança nas curvas das águas,
Tocadas pelos braços
dos velhos jambeiros cansados.
Zune o barco na esperança,
De uma corda atirada,
Estancando as corredeiras...
Os trancos e os barrancos,
Para finalmente aquietar
O meu barco tão cansado
Desse louco navegar,
E que laçador e laçado,
Possam juntos sossegar,
Antes que, estas águas,
De escuro tom ciano
Levem o meu barco errante,
Até o imenso oceano.
E se isso acontecer,
eu não serei, nem mais barco,
nem mais ânsia
Serei água: só mais água –
fragmentada e chorosa,
Que vira chuva e desaba,
Nos campos da minha infância.