Um reino qualquer
Falta coragem ao povo.
E agora?
O rei se desculpa,
De culpa se onera.
E o bobo sorri temerário
À ira do apático que espera.
Falta pão na boca
E vazio o circo sem lona.
Ninguém chora pelo tísico,
Ninguém move um cisco.
O feudo comemora a miséria,
Brinda à fome e à pobreza.
A festa anima-se na hora
Em que a criança faminta chora.
O palácio de mil cores se enfeita
E o tapete vermelho transpassa a sala.
A corte caminha com graça
E no trono o riso estala.
A luz das velas ilumina
O banquete que gozam generais.
Ossos e vermes sobram ao povo
Embasbacado nas janelas descomunais.
E agora?
Sobrará caldo nos ossos?
Vermes nos pratos?
Moscas ditosas em vôo sublime
Sobre os potes largados
E os restos do crime!