O POEMA QUE EU NÃO FIZ
No Sarau Taverna*, dessa sexta-feira dia 5, quando fui ao palco
pra dizer dois dos meus poemas, num súbito instante mudei tudo
ao dizer à platéia: pra vocês, um poema que eu não fiz, mas gostaria de
tê-lo feito.
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! Tudo ama!
Há amor na alucinada
fascinação do abismo,
amor paradoxal humano e forte
que se traduz nas febres do sadismo,
nessa atração perpétua para o Nada,
nessa corrida doida para a Morte.
Por isso quando a lianas
em lascívias florais cercam de abraços
o tronco hirsuto e grosso,
têm, no amplexo mortal, crueldades humanas.
Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo,
a assassina violência de dois braços
crispados num pescoço,
atenazando-o para estrangulá-lo!
É que o amor quer a morte. Num momento
resume a vida aos loucos entusiasmos
dos supremos espasmos...
Nesse furor que o invade
tem a volúpia da ferocidade,
tem o delírio do aniquilamento!
É por isso que sempre vês, por tudo,
uma luta de morte um desespero mudo:
a insídia da raiz que mina a terra e esgota,
o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto,
agitando pelo ar a própria dor ignota
no torturante amor do mais puro e mais alto!
E, na noite estival,
enchendo o Espaço e Tempo, a Luz e a Treva,
do Amor Universal.
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a lua, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! tudo ama!...
MENOTTI DEL PICCHIA, in Juca Mulato.
* Palavra mais conhecida como taberna,
também pode ser grafada na forma acima,
a exemplo do conto Noite na Taverna, de
Álvares de Azevedo.
No Sarau Taverna*, dessa sexta-feira dia 5, quando fui ao palco
pra dizer dois dos meus poemas, num súbito instante mudei tudo
ao dizer à platéia: pra vocês, um poema que eu não fiz, mas gostaria de
tê-lo feito.
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! Tudo ama!
Há amor na alucinada
fascinação do abismo,
amor paradoxal humano e forte
que se traduz nas febres do sadismo,
nessa atração perpétua para o Nada,
nessa corrida doida para a Morte.
Por isso quando a lianas
em lascívias florais cercam de abraços
o tronco hirsuto e grosso,
têm, no amplexo mortal, crueldades humanas.
Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo,
a assassina violência de dois braços
crispados num pescoço,
atenazando-o para estrangulá-lo!
É que o amor quer a morte. Num momento
resume a vida aos loucos entusiasmos
dos supremos espasmos...
Nesse furor que o invade
tem a volúpia da ferocidade,
tem o delírio do aniquilamento!
É por isso que sempre vês, por tudo,
uma luta de morte um desespero mudo:
a insídia da raiz que mina a terra e esgota,
o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto,
agitando pelo ar a própria dor ignota
no torturante amor do mais puro e mais alto!
E, na noite estival,
enchendo o Espaço e Tempo, a Luz e a Treva,
do Amor Universal.
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a lua, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! tudo ama!...
MENOTTI DEL PICCHIA, in Juca Mulato.
* Palavra mais conhecida como taberna,
também pode ser grafada na forma acima,
a exemplo do conto Noite na Taverna, de
Álvares de Azevedo.