INVENTÁRIO
O vento às vezes me traz
As vozes que não ouvi
Na chuva às vezes me vem
As dores que não senti
O escuro às vezes tem
Cores que não percebi
De vez em quando me olham
Misérias que não vivi
Entre tapetes e rendas
Vivo a me refugiar
Entre pratas e cristais
Não quero me desvendar
Entre sedas e cetins
Quero me dissimular
Entre chaves e cortinas
Prefiro não arriscar
Vedando minhas gavetas
Quero salvar-me assim
Trancando as minhas portas
Posso guardar-me, enfim
Rasgando os meus retratos
Pouco sobra de ruim
Fingindo que sou feliz
Não tenho medo de mim