ANTIGOS AMIGOS
À praia desces, amada,
Do Oceano que levou
Meus antigos sonhos embora.
Chegas assim, sem aviso,
Nessas horas obscuras
Em que o Abismo desperta.
Em ronda observas atenta
Minhas culpas e dores,
Sem uma palavra.
O que digo não importa:
Trazes dos confins do Infinito
Uma mensagem e uma ordem:
“Cedo virá uma última onda-
E nela deves saltar”
“Abandona, poeta, tua pena e teu lar!”
É neste momento, o da partida,
Que um céu de diferente aspecto
Congela e silencia.
Não sofro, não digo adeus.
Só espero chegar depressa
À outra praia que me espera.
Mas...e se não houver mais continentes?
E se as Ilhas se foram, como Avalon?
E se o vento norte cessou?
Amada, tens de ser sempre assim, a um tempo,
Amorosa e selvagem, como uma celeste
Imagem nas Águas?
Tuas asas têm um perfume
Envelhecido, e a cor quente
Do bronze ao sol.
Envolves o meu corpo
E sinto-me subindo...
Não é a Estrela da Manhã?
“Meus antigos amigos!
Não foram embora?”
“-Não, poeta, como você, viajamos, ainda!”
...