SERTÃO

Sou litorânea

Mas amo o sertão

O fogo das caatingas

O crestado rio-chão

Amo os tabareus

Que bonito o vaqueiro

Dono dos ceus

Tangendo o gado no mundareu

Depois vem suado

Pingando natureza de lado a lado

Pita um pacaio

Olha de soslaio

Deseja

Brilham os olhos de desmaio

Desce do cavalo

Apeia

Acende a candeia

E me incendeia

Aperta forte a cintura

Sufoca sem dó

Tem ainda de sobra coragem

Para a noite de forró

E eu me perdia no chapéu de couro

Pensando ser ele o toureiro

E eu o touro

O mundo todo

As estrelas salientes

A lua de calor dormente

Alumia o sertão

Tem almas na porteira

Tem criança pela manhã

Na ribanceira

Tem café moído

E flor de açafrão

Tem inhame com carne seca

Tem homem de força bruta

E coração de manteiga

Tem música no rádio de pilha

Leite no peito da vaca

Tem uma casinha mimosa

Na frente do jardim

Um pé de alfavaca

Tem banho no riacho

Sapo coaxando no brejo

Já vem a trovoada

E o vaqueiro se aninha

No colo de sua amada

Tem uma estrada de barro

Onde é possível se esconder

E namorar e beijar

Até o sol nascer