MORRER?

Morrer, deixar de ser?

Deixar de ouvir o que apenas o ouvido alcança?

Chegar ao futuro haver?

Virar saudade, gerar lembrança?

Morrer, deixar de ter?

Deixar de ver o que apenas os olhos vêem?

Arrebatar-se e a dor vencer

No chorar incontido de alguém?

Morrer, inexistir?

Deixar de falar o que apenas a voz consegue?

Deixar-se ir?

Exilar-se em um sonho albergue?

Morrer, esvaziar-se ao limbo?

Deixar de sentir o que apenas o corpo percebe?

Desnascer sem eco, deserto e infindo?

Morrer, aprisionar-se ao inevitável e inconteste verbo?

Ao vazio ateu entregar-se

Ou eternizar-se á luz fiel do credo?