O PRIMEIRO PENSAR DO DIÁRIO

“A mulher amada nasce

de um fruto

chamado poesia!”

Ela, mansa,

chega

após dizer baboseiras

ao amigo de infância que acompanhou-a menina.

E parte!...

Ela, quieta,

espera

as noites tristes dos Natais

só para dar a lembrança-surpresa ao primo afastado.

E parte!

Ela, atenta,

assiste

todas as aulas de Matemática,

da primeira fila, dada por aquele homem tão maduro.

E parte!

Ela, imatura,

morde

os lábios e molha inteira a língua

à espera do beijo-de-príncipe no melhor bom-humor.

E parte!

Ela, segura,

aperta

os braços como quem larga o fardo

da virgindade do namoro acabado por falta de hábito.

E parte!

Ela, disposta,

disputa

aos dezoito, o apartamento alugado

para correr e atender os primeiríssimos telefonemas.

E parte!

Ela, irrequieta,

pressente

na sua última sessão de cinema

um final de filme que não pára, enfim, de terminar.

E parte

para a primeira página do diário,

guardado a setecentas e setenta e sete chaves,

das menores coisas anotadas.

Ela, dita,

futura

a frase de fala inconseqüente:

“A mulher amada nasce

de um fruto

chamado poesia!”