No Verso da Folha
Dia desses de súbito
Tive uma inspiração
Catei uma folha já rabiscada
E pus em palavras o que era pensamento
Finda a poesia virei para ver o que havia em seu verso.
No verso havia palavras jogadas
Sem nexo e um tanto quanto sufocadas
Por números soltos e outros rabiscos
Que formavam um coração partido por mil riscos
Quase não se via coração
Pelo contrário era pura confusão.
No verso da folha
As palavras que lia me prendiam
Faziam-me remeter a um passado
Que julgava ter esquecido ou ignorado
Dentro de um sol desenhado havia uma interrogação
Será que quem desenhou questionava a luz interior
Medo Vento Alcance Dor
Cinco sentidos são pouco para entender essa sensação
Misericórdia? Mísero coração? Isso também estava escrito.
Depois de ter visto tudo que estava no verso
Escrevi outra poesia que era mais ou menos assim:
“No verso
Outro universo
Na frente
Está estampado o que todo mundo sente
No verso
A verdade
Na frente
Palavras mascaram a mesma verdade
No verso
Palavras sem dó nem piedade, tudo nu e cru
Na frente
Repleto de eufemismos e estéticas agradáveis e digeríveis.
No verso
Sentimentos sinceros, confusos, dúbios e fatalistas
Na frente
Muita rima muita melodia, uma ótima métrica, digno de boa crítica
No verso
Muito desgosto?
Na frente
Uma poesia de dar gosto?”
04/02/2010