HAMADRÍADA

Ainda vejo ao longe aquela árvore solitária

que um dia viste através do meu olhar.

Deitada na erva, da sombra olhavas o horizonte luminoso

e aquela colina distante, de onde a árvore te observava

como se fosse um espelho de ti, altaneira,

e tinhas os pensamentos simples que uma árvore tem,

quando quer apenas ser, apenas estar.

Da tua pele erguiam-se com simplicidade,

num coro alucinante aos sentidos,

as vozes das tuas raízes profundas

-que nenhuma casca continha,

nem roupa poderia disfarçar.

Era a linguagem antiga da terra quente

sob a erva molhada, repetindo histórias de seivas

por entre sorrisos de lábios férteis.

E os teus gestos eram levezas de vento

em carícias de folhas, como dedos

roçando por um instante a minha face feliz.

Ainda vejo ao longe aquela árvore solitária.

Enquanto me olha, protege em segredos de sombras

o que um dia viste, através do meu olhar.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 04/02/2010
Reeditado em 26/02/2010
Código do texto: T2069539
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