HAMADRÍADA
Ainda vejo ao longe aquela árvore solitária
que um dia viste através do meu olhar.
Deitada na erva, da sombra olhavas o horizonte luminoso
e aquela colina distante, de onde a árvore te observava
como se fosse um espelho de ti, altaneira,
e tinhas os pensamentos simples que uma árvore tem,
quando quer apenas ser, apenas estar.
Da tua pele erguiam-se com simplicidade,
num coro alucinante aos sentidos,
as vozes das tuas raízes profundas
-que nenhuma casca continha,
nem roupa poderia disfarçar.
Era a linguagem antiga da terra quente
sob a erva molhada, repetindo histórias de seivas
por entre sorrisos de lábios férteis.
E os teus gestos eram levezas de vento
em carícias de folhas, como dedos
roçando por um instante a minha face feliz.
Ainda vejo ao longe aquela árvore solitária.
Enquanto me olha, protege em segredos de sombras
o que um dia viste, através do meu olhar.