Letras
Letras
As letras me atormentam
Perambulam desorganizada(mente) pelo meu pensamento
Querem ser organizadas em poemas
Querem se transformar em poesias, contos ou coisa assim
São vaidosas, não querem ser só parte do alfabeto
Nem aceitam que eu as rejeite
Não entendem que nem sempre há inspiração
Nem sempre há desejo de brincar com elas
São persistentes
Não param de caminhar por meus pensamentos
Flutuam em minha mente
Invadem minha memória
Me fazem lembrar de um tempo em que eu as amava mais
Me cobram este amor
As letras querem que eu as ame
Que coisa mais infame!
Querem ser parte da minha história
Não aceitam o abandono
Me recordam que foram elas minhas companheiras nos momentos de dor e alegria
Que foram elas meu consolo muitas vezes, nas noites de agonia
Que por vezes deram um fim mais reluzentes aos fins dos meus dias
Que deram cor à minha vida quando tudo era incolor
Que deram gosto à minha vida quando tudo era sem sabor
Que me ensinaram a amar a poesia
E ver no céu nublado e cinza um lindo dia
Ver na criança um motivo para sorrir
Ver numa flor um encanto capaz de fazer cessar o pranto
Ah! As letras me ensinaram muita coisa
Foi com elas que aprendi a viver
Foi com elas que aprendi a ser
Ser humana
Sentir o vento
Ouvir os pássaros cantar
Mirar o tempo
Admirar o mar
Amar o silêncio
Fazer amizade com a solidão e ver nela uma boa companhia
Sorri quando sinto tristeza e chorar quando sinto alegria
Andar na contramão sabendo ser essa a mais perfeita direção
As letras me ensinaram que a vida é feita de ambigüidades
Que eu não preciso sorrir sempre
Que a dor faz parte da felicidade
Que o sofrimento é amigo íntimo do amor
Que o tempo é feito de momentos que se acabam com o tempo
E que viver é também morrer
Que é preciso nascer para viver e é preciso morrer para renascer
Por isso, letras, eu voltei
Escutei o grito do alfabeto
E os antigos silêncios do meu coração
Agora falarão.
Liliane Cristina Moreira
29 de janeiro de 2010.