[Inútil Espera]

[Inútil Espera]

[À espera de quem não me pertence]

Aquela delicada mão enluvada de branco,

o toque dos lábios vermelhos na borda da taça,

o ruído dos copos, das garrafas

e a afinação dos instrumentos da orquestra:

coisas que se fundem às imagens difusas de sensações latentes.

Na minha garganta, travada por soluços,

a ansiedade produz o trago em seco.

Por detrás de uma coluna,

meus olhos que espiam,

o salão onde se dançam sonhos;

e por sobre as cabeças desatentas,

capto os sussurros que se espalham no ar.

Atingem-me os ouvidos palavras sem endereço,

frases escutadas sem a tensão da fala original,

mas mesmo assim, ainda animam o filme

daqueles fragmentos de imagens desconexas.

Carentes da subjetividade que as originou,

as palavras caem a esmo, bambas, frouxas,

feito papagaio que rebentou a linha

mas não tem menino correndo atrás...

Espero por ela, que, no entanto,

não virá nunca, pois ela não me pertence,

nunca esteve antes em meu mundo,

e ainda que viesse, não estaria agora —

sofro à espera de quem não me pertence!

[Penas do Desterro, 22 de abril de 2000]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 31/07/2006
Reeditado em 02/08/2012
Código do texto: T206104
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