[Inútil Espera]
[Inútil Espera]
[À espera de quem não me pertence]
Aquela delicada mão enluvada de branco,
o toque dos lábios vermelhos na borda da taça,
o ruído dos copos, das garrafas
e a afinação dos instrumentos da orquestra:
coisas que se fundem às imagens difusas de sensações latentes.
Na minha garganta, travada por soluços,
a ansiedade produz o trago em seco.
Por detrás de uma coluna,
meus olhos que espiam,
o salão onde se dançam sonhos;
e por sobre as cabeças desatentas,
capto os sussurros que se espalham no ar.
Atingem-me os ouvidos palavras sem endereço,
frases escutadas sem a tensão da fala original,
mas mesmo assim, ainda animam o filme
daqueles fragmentos de imagens desconexas.
Carentes da subjetividade que as originou,
as palavras caem a esmo, bambas, frouxas,
feito papagaio que rebentou a linha
mas não tem menino correndo atrás...
Espero por ela, que, no entanto,
não virá nunca, pois ela não me pertence,
nunca esteve antes em meu mundo,
e ainda que viesse, não estaria agora —
sofro à espera de quem não me pertence!
[Penas do Desterro, 22 de abril de 2000]