A Passagem

há uma passagem

logo atrás da porta

logo atrás do teclado

logo após o último vento glacial do sul

é algo que rasga o meridiano em véus

faz minhas pernas andarem sem cor

sem dor, sem ardor, sem amor

luz

a passagem é enorme e me dá pavor

um pavor que morde minha pele

me mergulha em hematomas

me sangra

me desonra

me julga

me corta

me insulta...

..desculpe-me, mas eu tenho de correr..

...a passagem vai sumir...

... vai se fechar... minha cabeça ao meio...

... cantar os hinos de Mrs. Dollaway...

o templo... a passagem...

dentro dela eu me vejo em taças repartidas

cheias de fúria nua e indecorosa

sem saber por onde andar.

A passagem me faz bem...

um certo toque de tatuagem me comove

me eleva e num toque de sensações

adormeço ouvindo Morfeu me condenar

com suas risadas de americano

a passagem vai ficando longe...

eu acordo e me vejo na janela do meu apartamento

a brisa devasta meu corpo

as passagens se abrem como para um rei romano

sem cristãos, sem Coliseu

e a passagem se trancou

na retina dos meus olhos de aço

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 31/07/2006
Código do texto: T205712