OITO MINUTOS E VINTE E CINCO SEGUNDOS

Que febre é esta em meus olhos que não cessa

Que fragor é este em meus ouvidos que entontece

Que turbilhão é este em meu espírito que não se aquieta

Por piedade, poesia, me deixe

É preciso viver na inocência

Que peso é este sobre meus ombros

Como posso sentir ao mesmo tempo a vida e a morte

O azar e a sorte

Afasta de mim, Senhor, este cálice

Que tem a força e a cor

Do sol ao nascer e ao se pôr

Não me mostre, Pai

A mesa onde não posso estar

A casa onde jamais habitarei

Por que ouvir a voz dos anjos

Prefiro a surdez

Pai, é insuportável

Onde, como e por que pequei

Seria a dívida da cruz

E a felicidade e a infelicidade

Ao mesmo tempo ganhei

Desta cela diviso

O mar e o ceu

E as ondas se me mostram majestosas e más

E o ceu é um recorte do que não sei

Que febre é esta em meus olhos que não cessa

Leva-me, Senhor

Tenho pressa