Um Gato
Ele subiu no telhado.
Adora ver a rua do alto,
É o seu modo de vingar-se da nobre
Impáfia dos canários intocáveis.
No telhado sente-se Rei... Majestoso.
Lá não há restrição de dieta.
Há banquetes de lagartixas, roedores ousados
E recreação pós-siesta com suas amigas aranhas.
O gato subiu no telhado.
Quem ousa indagar motivos para
cessá-lo desse gesto pleno?
Lá não se sente sozinho,
Ou se lamenta por ter deixado o novelo esperar.
Um gato jamais se ressente pelo
Que fica para trás.
Numa tarde nublada,
Aos primeiros pingos de chuva,
O gato desceu.
E de tanta cólera por deixar de sentir
O vento libertino nos pêlos,
Deixou que, ao menos, os pensamentos
Continuassem a povoar as alturas.
E despreocupadamente pôs-se
A atravessar a rua.
Recebeu a dura pena de
Um caminhão de ração sob as costelas finas.
Só queria morar no seu Olimpo particular,
Pobre gato.