ALDEIA VELHA (a fazenda)

Numa sombria manhã

Um tropeiro comentou:

-Breve findará esse olor

Não haverá “jardineira” nem “primavera”

Nenhum mugir de gado hás de ouvir

E não verás pela janela ao entardecer

O sol sumir no horizonte

Por trás do pé de sapoti

Sabia ele, a previsão do viajante

Mas não do coração de um sonhador

Á tarde, de dedo em riste

Um mascate me falou:

-Um dia cai essa cancela

Não temerás que tua vilela

Seja apanhada pelo leão

Te esquecerás do alazão

Do Marajó, da Aldeia Velha

Sabia ele a profecia de um ancião

Mas não do coração de um poeta

Já á noite, quando a dor se antecipava

Me segredou uma cigana:

-passará feito um raio esse momento

Te sobrarão a lembrança, a saudade, o lamento

E o silencio da alvorada

Sabia ela, a verdade dos videntes

E também do coração de um pensador.